Desde o início do nosso trabalho no Retratos de Porto Belo, um ponto vem me chamando muito a atenção: as histórias que nos são contadas de 60, 70, 80 anos, e mesmo as mais recentes, de 15, 20 anos atrás, me impressionam. Em comparação a mim, que tenho dificuldade de lembrar o que almocei na semana passada, podemos considerar que nossos entrevistados possuem verdadeiros HDs sem fim.
São impressionantes os detalhes lembrados. Existe uma grandeza em suas histórias de vida que, quando contadas em suas particularidades verdadeiramente minuciosas, me deixam, eu diria, de queixo caído.
É difícil falar de um personagem apenas, mas, falando em anos de memória, posso citar dona Malfiza, 102 anos de idade quando nos concedeu a entrevista. Era perceptível a exatidão em suas palavras. Orgulhosa de sua história como cozinheira de grandes festas, ela nos contou todos os detalhes de duas em especial — lembrando que são memórias de, no mínimo, 70 anos atrás: uma delas, um casamento em Zimbros, onde limpou o engenho do local para lhe servir de cozinha; outra, um casamento no Perequê, onde produziu 40 empadões. Foram tantos os detalhes de seus feitos com doces e salgados, que não vou mentir se disser que me deu até fome!
O fato é: dona Malfiza, dona Cissa, seu Mário, dona Iracema, seu Silvestre e tantos outros personagens, nos dão verdadeiras aulas. Guardar memórias em HD externo é muito fácil, mas é limitado. O melhor disco rígido é o ser humano, o físico que vive e armazena ao mesmo tempo. Espero ter essa sorte.